O ativismo por hashtags
Publicado no Livrevista em 07/02/2014, na seção Entre-Vista
Nathalia Rocha
Os conflitos na Venezuela de Maduro não se limitam ao país. Um problema político já não fica restrito a seus envolvidos, a uns poucos que entendem e tomam o tema para análise. Não se limita àquilo que é difundido por veículos de comunicação. Os protestos iniciados em junho do ano passado no Brasil não tiveram a internet como origem. Mas é nela, e nas redes sociais, que a replicação de conteúdo, convocações, debates, produção e difusão de conteúdo, propagação de ideias de forma multilateral se dá, transpondo as barreiras do tempo e do espaço. Mas até que ponto esse potencial democratizador das redes é levado a sério e pode ser benéfico?
A socióloga Illana Strozemberg, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de pesquisas sobre o impacto das novas tecnologias sobre a cultura urbana e sobre as relações hierárquicas tradicionais falou um pouco sobre o ativismo nas redes e a influência desses na sociedade.
De que forma a internet contribui para a propagação do senso crítico e de ideias revolucionárias?
A internet em si não tem o poder de produzir efeitos. É o uso que se faz da internet que importa. O que a internet oferece é uma ferramenta capaz de disseminar ideias numa abrangência e rapidez inédita, além de poder ser usada para mobilizar ações fora do mundo virtual. Mas a internet também pode ser usada para disseminar ideias conservadoras, promover a permanência dos poderes estabelecidos, como também para fins eticamente condenáveis e até mesmo criminosos (pedofilia, ideais neonazistas, tráfico de drogas, etc.).
No entanto, a interatividade e a possibilidade de formação de redes sociais ampliadas muda a lógica do campo de disputa de ideias, permitindo que muitos atores sociais, que antes não tinham recursos de se fazerem ouvir, entrem em cena. Isso é uma mudança revolucionária na dinâmica da comunicação que, certamente, transforma a dinâmica das relações de poder.
Quais seriam as vantagens e desvantagens da internet em relação às causas políticas e sociais?
As mesmas características citadas acima – ampliação e rapidez inéditas da disseminação de ideias, interatividade e formação de redes – podem ser vantajosas ou desvantajosas dependendo do uso que é feito dessa tecnologia da comunicação.
Como você poderia explicar a tendência de uma parcela da sociedade que tem acesso à internet de se restringir ao ativismo virtual?
A sociedade sempre teve parcelas mais e menos propensas ao ativismo político. É preciso se perguntar se aqueles que agora se restringem ao ativismo virtual seriam ativistas caso não houvesse internet. Penso que o ativismo virtual tem uma eficácia própria e, nesse sentido, acredito que a internet contribuiu muito para o aumento da participação da sociedade civil nos movimentos políticos e sociais.
De outros pontos de vista essa discussão pode abordar outros aspectos, como a mudança nas fronteiras entre público e privado, e o controle das informações.
Você considera a internet um meio democrático?
Na medida em que amplia imensamente a possibilidade de acesso à informação e que a internet 2.0 transformou o receptor num potencial emissor de mensagens, a internet tem, sem dúvida, um efeito democratizante. Evidentemente, isso vai depender do acesso da população às novas tecnologias – tanto do ponto de vista material (ter aceso a computadores) quanto do conhecimento (alfabetização digital).
Para que seu potencial de democratização da informação seja efetivo é preciso que esse acesso seja mais universal e também que não haja censura.
Entretanto, a internet permite também que as informações produzidas pelos indivíduos aos se relacionarem, adquirem bens e serviços, acessar informações, etc. Através das redes eletrônicas seja rastreada, controlada e utilizada por grupos de interesse econômico e político. Nesse sentido, a internet, sobretudo quando utilizada através de softwares proprietários – tem um aspecto nada democrático.
Publicado no Livrevista em 07/02/2014, na seção Entre-Vista
Nathalia Rocha
Os conflitos na Venezuela de Maduro não se limitam ao país. Um problema político já não fica restrito a seus envolvidos, a uns poucos que entendem e tomam o tema para análise. Não se limita àquilo que é difundido por veículos de comunicação. Os protestos iniciados em junho do ano passado no Brasil não tiveram a internet como origem. Mas é nela, e nas redes sociais, que a replicação de conteúdo, convocações, debates, produção e difusão de conteúdo, propagação de ideias de forma multilateral se dá, transpondo as barreiras do tempo e do espaço. Mas até que ponto esse potencial democratizador das redes é levado a sério e pode ser benéfico?
A socióloga Illana Strozemberg, professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora de pesquisas sobre o impacto das novas tecnologias sobre a cultura urbana e sobre as relações hierárquicas tradicionais falou um pouco sobre o ativismo nas redes e a influência desses na sociedade.
De que forma a internet contribui para a propagação do senso crítico e de ideias revolucionárias?
A internet em si não tem o poder de produzir efeitos. É o uso que se faz da internet que importa. O que a internet oferece é uma ferramenta capaz de disseminar ideias numa abrangência e rapidez inédita, além de poder ser usada para mobilizar ações fora do mundo virtual. Mas a internet também pode ser usada para disseminar ideias conservadoras, promover a permanência dos poderes estabelecidos, como também para fins eticamente condenáveis e até mesmo criminosos (pedofilia, ideais neonazistas, tráfico de drogas, etc.).
No entanto, a interatividade e a possibilidade de formação de redes sociais ampliadas muda a lógica do campo de disputa de ideias, permitindo que muitos atores sociais, que antes não tinham recursos de se fazerem ouvir, entrem em cena. Isso é uma mudança revolucionária na dinâmica da comunicação que, certamente, transforma a dinâmica das relações de poder.
Quais seriam as vantagens e desvantagens da internet em relação às causas políticas e sociais?
As mesmas características citadas acima – ampliação e rapidez inéditas da disseminação de ideias, interatividade e formação de redes – podem ser vantajosas ou desvantajosas dependendo do uso que é feito dessa tecnologia da comunicação.
Como você poderia explicar a tendência de uma parcela da sociedade que tem acesso à internet de se restringir ao ativismo virtual?
A sociedade sempre teve parcelas mais e menos propensas ao ativismo político. É preciso se perguntar se aqueles que agora se restringem ao ativismo virtual seriam ativistas caso não houvesse internet. Penso que o ativismo virtual tem uma eficácia própria e, nesse sentido, acredito que a internet contribuiu muito para o aumento da participação da sociedade civil nos movimentos políticos e sociais.
De outros pontos de vista essa discussão pode abordar outros aspectos, como a mudança nas fronteiras entre público e privado, e o controle das informações.
Você considera a internet um meio democrático?
Na medida em que amplia imensamente a possibilidade de acesso à informação e que a internet 2.0 transformou o receptor num potencial emissor de mensagens, a internet tem, sem dúvida, um efeito democratizante. Evidentemente, isso vai depender do acesso da população às novas tecnologias – tanto do ponto de vista material (ter aceso a computadores) quanto do conhecimento (alfabetização digital).
Para que seu potencial de democratização da informação seja efetivo é preciso que esse acesso seja mais universal e também que não haja censura.
Entretanto, a internet permite também que as informações produzidas pelos indivíduos aos se relacionarem, adquirem bens e serviços, acessar informações, etc. Através das redes eletrônicas seja rastreada, controlada e utilizada por grupos de interesse econômico e político. Nesse sentido, a internet, sobretudo quando utilizada através de softwares proprietários – tem um aspecto nada democrático.